File:LÉLIS, Natália de Souza. Entrevista - nov. 2019.ogg

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LÉLIS,_Natália_de_Souza._Entrevista_-_nov._2019.ogg(Ogg Vorbis sound file, length 26 min 7 s, 66 kbps, file size: 12.35 MB)

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Português: Entrevista de Natália de Souza Lélis concedida no âmbito da Fundação José Pedro de Oliveira - ARIE Mata de Santa Genebra, Campinas, SP, em 07 de novembro de 2019. LÉLIS, Natália de Souza. Natália de Souza Lélis: entrevista [nov. 2019]. Entrevistadores: Augusto de Oliveira Brunow Ventura e Lucas Cesar Gouvea Barbosa. Campinas: Fundação José Pedro de Oliveira, 2019. Áudio em mp3. Entrevista de Natália de Souza Lélis concedida no âmbito da Fundação José Pedro de Oliveira - ARIE Mata de Santa Genebra, Campinas, SP.
Date
Source Own work
Author Gutoventura

[00:00:03] ENTREVISTADORES: Olá eu sou o Augusto Ventura, biólogo da Fundação José Pedro de Oliveira, um dos responsáveis pela gestão socioambiental da unidade de conservação e eu vou entrevistar hoje a Natália. Antes de começar a entrevista. Antes da gente começar as perguntas eu gostaria que você falasse um pouquinho sobre você, sobre a sua atuação profissional, sobre algumas questões pessoais que você acha relevante. Então fique à vontade Natália.

[00:00:38] ENTREVISTADA: Primeiramente quero agradecer a oportunidade do Augusto ter me convidado para estar relatando um pouquinho sobre as minhas experiências. Meu nome é Natália, tenho 25 anos. Natália de Souza Lélis, tenho 25 anos. Fui moradora do bairro Jardim Novo Real Parque durante os meus 20 anos e por ironia do destino ou não, acabei trabalhando na unidade de conservação ARIE Mata de Santa Genebra como estagiária em educação ambiental. Eu sou bióloga também, assim como o Augusto, e desde pequenininha eu sempre almejei estar do outro lado da cerca da Mata, conhecer o que tinha naquele pedacinho de mata verde e eu consegui graças a Deus realizar esse desejo.

[00:01:41] ENTREVISTADORES: Bom, você comentou antes. Por quanto tempo você morou no Jardim Novo Real Parque?

[00:01:48] ENTREVISTADA: Eu morei durante os meus 20 anos de idade. Até os 20 anos. Eu estou com 25. Até os 20 anos. Nasci e me criei.

[00:02:00] ENTREVISTADORES: Como era a vida lá?

ENTREVISTADA: Olha, era uma situação assim, é uma realidade bem diferente do que a gente está acostumado. É uma comunidade onde há falta de recursos, há falta de saneamento básico.

[00:02:18] ENTREVISTADA: Eu lembro que no fundo da minha casa o esgoto é a céu aberto. Então educação ambiental zero, que as pessoas acabam descartando o lixo incorretamente tanto nas ruas quanto no próprio esgoto, e acabou sendo um local com uma vulnerabilidade social, de saúde pública também, para todos.

[00:02:44] ENTREVISTADORES: Como você classifica a atuação do Poder Público no local antes do reassentamento? Considerando que o processo de reassentamento se deu desde a notificação dos moradores até a instalação definitiva destes no Residencial Takanos.

ENTREVISTADA: Então eu me lembro que a minha mãe sempre ouviu essa história que haveria a remoção por estarmos em área irregular. Isso há 30 anos, então a gente não levava muito a sério se isso realmente iria acontecer ou não. Mas teve um dia que aconteceu. Foram as pessoas envolvidas, os funcionários da Cohab juntamente com o pessoal da prefeitura, passaram nas residências fazendo o cadastro das famílias, fazendo um questionário socioeconômico, e noticiando que haveria, então, a remoção das famílias para um outro local. Até então esse outro local seria um local distante, que distanciaria ainda mais as famílias da sua rotina diária. Então a gente, o pessoal, acabaram se movendo e tentando na Justiça um local mais próximo, que é o local onde eu estou morando no momento, que é o Residencial Takanos. Fica próximo ao Bairro Matão, ali perto do CDHU, que mesmo assim é um local onde o acesso é muito precário, muito difícil. Atrapalhou totalmente a rotina das famílias. Muitas mães, muitos pais acabam tendo que trabalhar porque a sua vida, antes, era aqui em Barão Geraldo.

[00:04:36] ENTREVISTADORES: A gente vai chegar lá. Eu queria perguntar para você como você considera, como você classifica, ou como você qualificaria com as suas palavras a atuação do Poder Público aqui no Jardim Novo Real Parque antes desse processo?

ENTREVISTADA: Antes?

ENTREVISTADORES: Antes.

[00:05:01] ENTREVISTADA: Sinceramente eu não me lembro de nenhuma atuação pública Nada nada nada. Nada. Eles. Simplesmente, era a parte. A gente percebe que a parte do Jardim Novo Real Parque é a parte excluída da sociedade que engloba Barão Geraldo, que é um local bem conhecido por conta da Unicamp. A gente tem vários bairros bem conceituados, e simplesmente o Real Parque ele, a gente sempre se sentiu meio que excluído de toda essa região.

ENTREVISTADORES: Aí a gente. A próxima pergunta seria como se deu o processo de reassentamento, que era o que você já estava começando a descrever

ENTREVISTADA: O processo foi como eu havia dito, teve então a notificação por meio desses profissionais que foram em todas as casas que onde teoricamente o terreno teria ultrapassado do limite. Foi feita uma marcação nesses terrenos com a metragem e os profissionais fizeram um cadastro de todos os moradores, de quantas pessoas moravam na casa, a questão socioeconômica. Tudo para fazer uma realocação dessa população em outro local.

ENTREVISTADORES: Em que ano você e a sua família mudaram para o novo empreendimento Residencial Takanos?

[00:06:24] ENTREVISTADA: Foi no final de 2014, mês de novembro inclusive. Só que, assim, o prazo foi muito curto. Eles chegaram, tipo, olha vocês tem uma semana para estar se mudando. A gente sabia, mas não sabia quando que seria. Então, no caso do Recanto dos Pássaros, ali, aquela parte onde a minha tia mora, foi tipo eles mandaram hoje, daqui dois dias já teriam que mudar. Como aquela primeira parcela eles se mudaram, o restante, que era a gente, a gente já ficou meio precavido que logo chegaria a nossa notificação também e já estava mais preparado. Mas o Recanto dos Pássaros foi mais assim, foi mais uma surpresa. Foi mais rápido. A notícia chegou para eles serem removidos.

[00:07:20] ENTREVISTADORES: Você considera que os moradores receberam as orientações técnicas sobre o processo?

ENTREVISTADA: De realocação você fala?

ENTREVISTADORES: É.

[00:07:28] ENTREVISTADA: Olha as únicas informações que a gente recebeu foi de que teríamos que ser removido inclusive por conta. Não sei se vocês vão incluir isso ou não, mas eu vou falar. Por conta da nascente aqui da Mata. Muita gente acha que foi por causa disso.

ENTREVISTADORES: Pode falar.

ENTREVISTADA: Pode falar?

[00:07:49] ENTREVISTADA: Muitas pessoas, no entanto, acham que a remoção foi por conta da nascente que começa na Mata de Santa Genebra, e que à medida que ela vai trilhando, ela num determinado momento passa a ser o esgoto a céu aberto. Aquele esgoto que eu comentei no início da entrevista, que ficava no fundo de casa, que acabava virando um local de descarte incorreto. Então uma das justificativas que eles nos disseram seria por conta disso, e que o meio ambiente, a Mata, enfim, estavam em cima, e queriam regularizar essa parte.

[00:08:27] ENTREVISTADORES: Quem eram esses técnicos, ou quais eram as instituições que faziam essas informações, que passavam essas informações?.

[00:08:40] ENTREVISTADA:Pessoal da Cohab, isso, e pessoal da prefeitura também, porque foi uma parceria entre. No entanto, que esse empreendimento onde a gente mora era pra ser uma área particular. Não era pra ser.

[00:08:52] ENTREVISTADA: Então como foi tudo meio que rápido, a pressão acho que, eu não sei de qual parte que foi, começou a pressionar tanto a Prefeitura que aí ela entrou em contato com a Cohab para achar um lugar para ter essa remoção, tão rápida assim.

ENTREVISTADORES: Antes de acontecer o processo de reassentamento, os moradores participaram do processo de resolução? Existiu algum espaço de diálogo com o Poder Público?

[00:09:22] ENTREVISTADA: Sim existiu. Eu me lembro, inclusive meus pais participaram. Eu não entendia muito na época, eu era mais nova, mas eu me lembro sim que teve reuniões no Salão da Associação do Bairro, dos Moradores, inclusive um vereador, Pedro Tourinho, que é conhecido pessoal dos meus pais, nosso. E ele deu uma força pra gente na questão de realocar num lugar mais próximo, porque queriam colocar a gente lá no Bassoli, que é um local bem mais distante do que onde a gente está. Então por já ter uma pessoa envolvida com um conhecimento maior, a gente, meus pais inclusive tomaram bastante frente nessa parte e conseguiu esse outro empreendimento mais próximo para a gente.

ENTREVISTADORES: Você lembra que órgãos do Poder Público estavam presentes nesse processo do reassentamento?

[00:10:19] ENTREVISTADA: Não me lembro.

ENTREVISTADORES: Você já comentou aqui que tinha a Cohab.

ENTREVISTADA: Foi a Cohab, sim. A Cohab, que era assim quem a gente sempre via nas ruas, o pessoal trabalhando e fazendo o cadastro. Só esses que eu me lembro.

[00:10:37] ENTREVISTADORES: O poder público ofereceu alternativas a esse processo de reassentamento?

ENTREVISTADA: Eu não sei se vai servir como uma alternativa, mas teve pessoas resistentes à mudança por conta financeira. Tinham casas que valiam mais do que o imóvel que queriam realocar a gente. Então teve pessoas que foram ressarcidas em valor, em dinheiro.

ENTREVISTADORES: Essa foi a alternativa? Ao invés do reassentamento.

ENTREVISTADA: Sim. Isso, aí a pessoa recebeu em dinheiro, né, o valor, e aí ela não se mudou para o Takanos.

[00:11:12] ENTREVISTADORES: Mas isso não foi uma oferta do Poder Público?

ENTREVISTADORES: Mas ela saiu de lá?

ENTREVISTADA: Saiu, saiu de lá. Saiu. Foi uma, como que chama? Avaliadores para avaliar o imóvel, para saber o valor, e aí a pessoa optou em receber o valor em dinheiro para comprar em outro local, enfim.

ENTREVISTADORES: Nenhuma outra alternativa?

ENTREVISTADA: Não, nenhuma outra. Nem perguntou se a gente queria ficar.

ENTREVISTADORES: Ficar por exemplo.

ENTREVISTADA: Não.

[00:11:43] ENTREVISTADORES: Você considera que os direitos e a dignidade dos moradores foram respeitados no processo de desapropriação? Por que?

[00:11:51] ENTREVISTADA: Não, bom, a começar pelo prazo que eles deram. Foi algo muito rápido essa mudança, e acho que eles não pensaram também no transtorno que essa realocação em um outro local traria para a gente. Questões pessoais, familiares, os laços, porque muita gente morava junto com a família, e parte da família da casa que estava regular ficou e a outra parte teve esse desmembramento. Então quebrou, sim, até um vínculo familiar.

ENTREVISTADORES: Ele ajudaram a mudar?

[00:12:32] ENTREVISTADA: Não. Não ajudaram. Também, outro ponto foi a questão financeira. Eles não deram suporte para a mudança. Não ofereceram nenhum tipo de ajuda. A gente se mudou por conta própria.

[00:12:45] ENTREVISTADORES: O que você entende por reintegração de posse?

ENTREVISTADA: Bom, o que eu entendo de reintegração é quando um local é de alguém, de alguma pessoa, ou de algum órgão, e ele está ocupado indevidamente e os donos responsáveis querem reapropriar daquele local que é por direito seu.

[00:13:16] ENTREVISTADORES: Bom, você já comentou a respeito disso, mas a gente pode reforçar. Houve resistência dos moradores à mudança? Caso sim, quais foram os motivos da resistência?

[00:13:32] ENTREVISTADA: Sim, houve alguns. Houve bastante resistência, porque querendo ou não, a gente fala, a questão financeira acho que é um dos pontos mais importantes de ser levado em consideração. Por se tratar de uma área irregular, tem a parte irregular até de energia elétrica, não tem gasto com condomínio, não tem gasto com a água, com água não, água tem, porque água aqui é cobrada, tá, mas enfim, gastos que não tinham aqui e que agora a pessoa tem. Então a pessoa olhando para esse lado, ela não queria ter. Não queria. Esse foi um dos pontos também.

[00:14:15] ENTREVISTADORES: Você considera que seria possível a regularização dessas moradias de modo a garantir o direito ao meio ambiente saudável?

[00:14:29] ENTREVISTADA: Eu acho que sim.

ENTREVISTADORES: Por que você acha?

ENTREVISTADA: Eu vou falar por mim, que eu tenho um conhecimento um pouco da área, agora, falando como uma moradora comum da comunidade, na visão deles não. Na visão deles não porque eles não têm essa visão sustentável, ecológica e da importância.

[00:14:57] ENTREVISTADA: Agora, na minha opinião sim. Eu acho que foi feito, sim, a remoção das famílias. O local poderia ter sido mais próximo. Para a gente não perder tantas coisas que a gente perdeu, por passar por tantos transtornos, e também ter feito da forma adequada, de ter finalmente resolvido o problema que foi nos falado. Que até hoje o esgoto a céu aberto está lá e não houve nenhuma ação em momento algum depois da saída dos moradores.

[00:15:27] ENTREVISTADORES: Talvez você não tenha entendido bem a pergunta. A pergunta é a seguinte: se você acredita que seria possível manter essas pessoas lá. Não fazer o reassentamento, regularizar as moradias de modo a garantir um meio ambiente saudável.

[00:15:50] ENTREVISTADA: Sim, eu acredito que sim.

ENTREVISTADORES: Por que você acha isso?

ENTREVISTADA: Ah, há várias áreas técnicas. Primeiramente acho que uma educação ambiental na comunidade para levar informação e conteúdo para os moradores para eles terem essa sensibilização da importância. A questão da regularização da nascente que passa a virar esgoto a céu aberto. Então há várias técnicas hoje em dia que a gente conhece para fazer uma barreira, coisas mais sustentáveis, que existem, só que por falta não sei se é de conhecimento ou outra coisa que não são implantadas, mas acredito que sim, há a possibilidade, sim, de associar o meio ambiente com a sociedade.

ENTREVISTADORES: E manter essas casas.

ENTREVISTADA: De manter, manter as casas. Se esse fosse o real motivo para ter removido esses moradores. Vai que tem outro, não sei.

ENTREVISTADORES: O reassentamento no Residencial Takanos garantiu moradia digna e acesso aos demais direitos correlatos, como às políticas públicas?

[00:17:09] ENTREVISTADA: Não. Eu falo o imóvel em si ok. É uma qualidade, uma gracinha. Eu falo assim porque eu vendo por esse lado foi uma oportunidade que a gente teve de ter um bem material, mas em questão dos serviços, nenhum, transporte, o ônibus é precário, é horrível o ônibus. Para a gente vir até Barão Geraldo, dependendo do bairro, aqui no caso o Real Parque, são três conduções que a gente tem que pegar, são três conduções. Muita gente trabalha por aqui. Então acabou gerando um transtorno, um gasto a mais porque tem que gastar com vale transporte, com combustível quem tem carro ou não. Saúde também. O postinho. Não tem um posto de saúde no bairro. Então a gente tem que ser atendido no postinho do bairro ao lado. Tem que pegar condução também. Duas conduções, descer na pista e pegar outro ônibus. Então assim, não tem um supermercado grande, não tem uma farmácia grande, são todas mercearias pequenas, só que não dão conta, com os valores absurdos porque é a lei da oferta e procura. Então a gente acabou saindo no prejuízo nessas partes também.

[00:18:37] ENTREVISTADORES: Acho que isso aqui superou já [pergunta constante no roteiro]. Já superou.

ENTREVISTADORES: Qual tipo de assistência vocês receberam do poder público durante esse processo todo de reassentamento?

ENTREVISTADA: Assistência, nenhuma.

[00:18:50] ENTREVISTADORES: Você já comentou anteriormente que vocês tiveram que pagar a mudança.

ENTREVISTADA: Sim, nós pagamos a mudança.

ENTREVISTADORES: Vocês tiveram algum outro tipo de suporte?

ENTREVISTADA: Não.

ENTREVISTADORES: Quanto custa por mês?

[00:18:57] ENTREVISTADA: Ah sim. Nós fomos implantados no programa Minha Casa Minha Vida do governo, aquela questão da renda lembra do cadastro onde foi feito o levantamento socioeconômico das famílias. Eles viam a renda mais ou menos e aí eu lembro que a gente fez, sim, essa parte e eles enquadraram a gente.

[00:19:27] ENTREVISTADA: E cada família paga um valor de acordo com a renda. No meu caso a gente paga 40 reais a mensalidade do apartamento, se fosse olhar é um valor.

ENTREVISTADORES: Por?

ENTREVISTADA: Por 10 anos. 10. Ah é bastante tempo, eu não lembro mais ou menos ao certo. Mas aí tem o condomínio que é no valor de 120 reais, aí gás, água, energia. Acho que foi o único programa que eles. Tem gente que chega a pagar 20 reais. No caso de pessoas que não tinham carteira assinada, autônomos desempregados pagavam esse valor mínimo de 20 reais.

ENTREVISTADORES: Então foram esses apoios?

ENTREVISTADA: Hm hm.

[00:20:18] ENTREVISTADORES: Atualmente qual a sua relação com o local e/ou com as pessoas que moram no Jardim Novo Real Parque?

[00:20:28] ENTREVISTADA: Eu falo que eu não tenho residência fixa porque a maioria das minhas coisas. Eu trabalhava, como citei no início da entrevista, eu trabalhava na Mata de Santa Genebra. A minha avó mora aqui. O meu noivo ainda mantém a casa aqui. E tudo que a gente tem que resolver, se é pagar alguma conta ou fazer alguma outra coisa a gente vem até o centro de Barão Geraldo que é mais fácil, que é mais cômodo para a gente por essa afinidade já de estar resolvendo as coisas.

[00:20:58] ENTREVISTADA: Então a minha afinidade não mudou, não alterou, eu mantenho, eu estou sempre no bairro resolvendo o que eu sempre resolvia anteriormente.

[00:21:08] ENTREVISTADORES: Assim como você existem outras pessoas, que foram reassentadas também?

ENTREVISTADA: Sim. Sim, nossa, muita gente, muita gente. A minha tia mesmo ela mora lá também, mas o marido dela trabalha aqui, aí a filhinha dela estuda aqui, então ela sai cedo de casa pra fazer essa viagem, deixar a filha na escola, meu tio vem trabalhar, ela vem trabalhar e só volta literalmente para o Takanos para dormir. Essa é a realidade. Isso eu falo. No caso próximo a mim de um familiar, assim como existe de tantas outras famílias que eu não posso estar citando diretamente.

[00:21:51] ENTREVISTADORES: Sabe-se que as residências que foram desocupadas na época foram reocupadas em curto período de tempo. Você conhece as pessoas que reocuparam estes imóveis?

[00:22:04] ENTREVISTADA: Conheço. Conheço e essa. Como é que chama?

ENTREVISTADORES: Reocupação.

ENTREVISTADA: Essa reocupação foi muito rápida, inclusive no momento tinham famílias colocando a mudança já no caminhão e tinha gente exigindo, exigindo a chave, que tinha gente que já ia ver as casas antes, as melhores para poder pegar. Isso aconteceu.

[00:22:32] ENTREVISTADORES: Há moradores que foram indenizados ou que foram contemplados com um apartamento no Residencial Takanos e que voltaram para o Jardim Novo Real Parque?

[00:22:44] ENTREVISTADA: Então o que eu sei é esses casos que eu falo, que eu comentei desde o início que atrapalhou muito a rotina dessas pessoas. Muita gente assim como eu acabam dividindo seus dias, suas tarefas, seus afazeres entre esses dois lugares. Porque, como eu falei, muitos, parte da família ficou e a outra parte foi embora. Então às vezes é uma mãe que precisa deixar o filho com a avó, acaba ficando, para ela poder ir trabalhar. Ela sai de lá, vem aqui, deixa o filho, acaba ficando, retornando. Agora a questão de estar morando fixamente eu não posso informar diretamente porque eu não conheço nenhum caso assim.

[00:23:35] ENTREVISTADORES: Depois de passado esse processo de reassentamento como você classifica a atuação do poder público hoje, ali nesse local, no Jardim Novo Real Parque?

ENTREVISTADA: Eu não vejo nenhuma atuação para falar a verdade, porque da mesma forma que a gente foi removido, ficou.

[00:23:54] ENTREVISTADA: As pessoas reinvadiram novamente e assim se manteve durante esse período, que já se foram quase cinco anos e a gente não tem nenhuma notícia do que, do que aconteceu, do que vai acontecer. Então está meio que parado o processo.

[00:24:16] ENTREVISTADORES: A gente chega ao final da entrevista. Antes do final eu gostaria de saber se você quer comentar, quer fazer mais alguma consideração final.

[00:24:27] ENTREVISTADA: A minha consideração final é que eu vejo sempre as coisas em dois ângulos. Eu sei que a remoção ela foi feita, não agradou. A gente teve muitos prejuízos nisso, mas eu vi também como uma oportunidade de um cidadão ter um imóvel que hoje em dia é muito difícil uma pessoa adquirir um imóvel no seu nome, com tudo conforme deveria ser. Só que acho que a mentalidade das pessoas não tem, principalmente ali na comunidade. Elas viram isso como uma forma de gasto. Uma forma de não querer na verdade de sair da sua zona de conforto. Essa é a realidade. Então acho que isso é uma opinião pessoal de cada um e a que eu tenho para mim foi essa. E os transtornos, sim, eles vieram, mas a gente está na luta. Estamos na luta.

ENTREVISTADORES: Ok. Muito obrigado.

[00:25:35]

ENTREVISTADORES: Lembrando mais uma vez. Acho que a gente não gravou isso, mas é bom gravar, que essa entrevista ela vai ser disponibilizada publicamente. Ela também vai ser anexada ao artigo que a gente vai mandar para o Simpósio de Áreas Protegidas e Inclusão Social que vai acontecer em Recife de 11 a 14 de dezembro de 2019. Muito obrigado pela entrevista. Foi um prazer e a gente encerra aqui a entrevista.

ENTREVISTADA: Muito obrigada.

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