File:Troço da antiga Muralha do Funchal - 2010-06-26 - Image 111888.jpg

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Troço da antiga Muralha do Funchal.

Cantaria semi-aparelhada aparelhada.
Mateus Fernandes (III) (c. 1520-1597), 1575 (c.) e seguintes.
Fotografia de José Lemos Silva, 26 de junho de 2010.

Rua Major Reis Gomes, Funchal, ilha da Madeira.

A construção de uma cintura amuralhada no Funchal foi alvitrada nos finais do séc. XV, embora não tivesse tido sequência. A partir de 1492 também o reino de Castela se lançara na conquista do Oceano Atlântico e, embora com tecnologias ainda rudimentares, a ação apresentou-se como uma nítida concorrência ao expansionismo português e, no quadro das negociações do tratado de Tordesilhas, veio ordem para o Funchal, com data de 21 de junho de 1493, para a fortificação da já então florescente vila. A vereação assustou-se com o regimento enviado, onde toda a população deveria pagar a obra, conseguindo o protelar da mesma e, com a resolução do tratado, tudo ficou suspenso.
A situação, entretanto, alterou-se profundamente nas décadas seguintes e, em outubro de 1566, o Funchal foi alvo de ataque corsário francês, o que levou à deslocação para o Funchal de vários especialistas militares, com foi o novo mestre das obras reais Mateus Fernandes (c.1520-1597), chegando depois o regimento de fortificação de 1572 com a ordenação das muralhas a fazer nas ribeiras de João Gomes, naquele tempo de Nª. Sª. do Calhau e da de S. João, então Ribeira Grande. Fechariam nos picos da Pena e de S. João, então pico dos Frias ou das Freiras e prolongavam-se ao longo da cidade e frente ao mar. O mestre Mateus Fernandes regressou ao continente em 1595, vindo este troço de muralha a ser levantado pelo novo mestre Jerónimo Jorge (c. 1570-1618) e pelos filhos, entre 1575 a 1615 (c.). A partir de 1600 a fortificação da Madeira conheceu uma época de grande atividade, conhecendo-se o livro de férias dos operários de 1611, embora, especialmente dedicado à muralha junto do “ribeiro seco do cabo do calhau”, ou ribeiro da Nora, para “desentupir a porta da muralha que se fez para o mar”, chegando os trabalhos a envolverem quase 200 homens, que recebiam 160 réis por dia, totalizando por semana cerca de 30$000, com 12 boieiros, a 500 réis cada um por dia, tudo somando cerca de 70$000 réis por semana. A nova muralha em pedra e cal chegou nesse ano aos arrifes de São Tiago, obrigando à construção de uma outra fortificação naquela área, logicamente com essa denominação.
Ao longo de 1618 foi igualmente reformulada a muralha da ribeira de S. João até ao Pico, tomada de empreitada pelo mestre Brás Fernandes, que nesse ano levantou também o forte do Gorgulho e, nos anos seguintes, viria a trabalhar na igreja do colégio dos Jesuítas. Este mestre foi recebendo semanalmente, entre 4$000 e 12$000 réis, embora alguns trabalhos pontuais tivessem sido pagos à parte, como o “enformar” o forno da cal de S. Lourenço e assentar o portal da rua da Carreira, obra que decorreu na semana de 28 de junho a 4 de julho. Parece assim que o portal da Rua da Carreira teria sido executado por Bartolomeu João (c. 1590-1658), que nesse ano assume o cargo por morte do pai, Jerónimo Jorge e portal “assente” por Brás Fernandes. Entre 1618 e 1621, toda a cidade teria ficado murada, segundo escreveu depois o antigo provedor da fazenda António Antunes Leite, em 1623, embora o principal portão do Funchal, ao largo dos Varadouros, só se viesse a levantar quase nos finais do século, em 1689, como ficou exarado na lápide do mesmo.
Rui Carita, As Muralhas da Cidade do Funchal, design de Virgílio Gomes, Projecto PAAD, INTERREG III – B, Câmara Municipal do Funchal, 2006.

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Source Arquipelagos (consultar ficha)
Author José Lemos Silva

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